Sistema da PBSF já é utilizado por 50 hospitais e maternidades da rede pública e privada no Brasil, que ajuda a detectar situações de riscos neurológicos em bebês antes dos sinais clínicos.

Deixar o mundo melhor para as próximas gerações não é mais uma utopia e começa a se tornar palpável com a exploração da Inteligência Artificial (IA). Entre todas as áreas e setores, existe uma expectativa do uso da IA na saúde, especialmente na neonatologia – especialidade da pediatria que se dedica ao acompanhamento e tratamento de recém-nascidos e fetos –, onde avanços tecnológicos estão salvando vidas, prevenindo deficiências neurológicas em recém-nascidos, e entregando uma experiência positiva na jornada do paciente.

Quem lidera essa jornada, é um dos nomes em evidência do setor, o médico Gabriel Variane, pediatra e neonatologista, fundador da PBSF, sigla em inglês de Protegendo Cérebros, Salvando Futuros. Fundada há 8 anos, a missão da PBSF é ambiciosa: reduzir a zero o número de crianças com o risco de lesões neurológicas permanentes todo o mundo.

Dr. Gabriel Variane, fundador da PBSF.

Dr. Gabriel Variane, fundador da PBSF.

A asfixia perinatal acontece quando o bebê fica sem oxigenação no momento próximo ao nascimento, podendo ocorrer antes, durante ou imediatamente após o parto. Estima-se que, no Brasil, aproximadamente 20 mil crianças nasçam com falta de oxigenação no cérebro em um período de 12 meses. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), essa condição ocupa a terceira causa de morte neonatal, representando 23% dos óbitos de recém-nascidos no mundo inteiro, além de estar entre as principais causas de lesão cerebral permanente em bebês nascidos com idade gestacional de 37 a 42 semanas.

Para combater esse problema na área de saúde, após ter a oportunidade de fazer uma especialização na Universidade de Stanford, o médico trouxe para o Brasil um conceito de UTI que tem a capacidade de reduzir lesão neurológica permanente, diminuir mortalidade infantil precoce e dar assistência, por meio da Inteligência Artificial, para bebês que sofreram algum grau de falta de oxigenação durante ou após o parto.

Atualmente esse sistema já está empregado em 50 hospitais e maternidades, tanto na rede pública e privada, espalhadas pelo Brasil. “Criamos um modelo de saúde digital que, desde 2016, se tornou a maior rede de neuromonitoramento do mundo. Nossa paixão é unir o melhor da tecnologia aos propósitos de prevenir lesões neurológicas em recém-nascidos”, afirma Gabriel Variane.

Detecção de riscos

Nesse sentido, já foram monitorados 12 mil recém-nascidos, tendo quase 90% dos casos de crises convulsivas sendo detectados antes de qualquer sinal clínico visível, o que tem sido fundamental na prevenção de lesões cerebrais irreversíveis e até na redução de mortes. “Sempre tivemos essa preocupação de atender a todos, especialmente a população mais suscetível e em risco. Observamos que a maior parte das crianças com deficiências se encontra em classes sociais mais vulneráveis, então precisamos atender o SUS”, destaca Gabriel. “Nosso projeto não seria bem-sucedido se não incluísse essa população, que é fundamental para a viabilidade do trabalho”.

Gabriel explica que a tecnologia utilizada pela PBSF vai além da simples monitoração. Ela prevê riscos ao cérebro do bebê através de sinais emitidos por órgãos vitais como coração e rins, permitindo uma análise abrangente e precisa. Todas essas informações são monitoradas em tempo real por uma central, que auxilia os médicos na adoção de abordagens e protocolos adequados para cada situação.

“Centralizando essa expertise e utilizando IA, conseguimos homogeneizar o cuidado, o que melhora os resultados, diminui a mortalidade e reduz complicações. Um exemplo é a Baixada Santista, que tinha a maior mortalidade infantil de São Paulo em 2016, mas com a implementação desses sistemas, houve uma redução significativa da mortalidade neonatal”, pontua o médico.

Reconhecimento científico

A iniciativa foi reconhecida pela comunidade científica em mais de 30 publicações, incluindo o estudo “Remote Monitoring for Seizures During Therapeutic Hypothermia in Neonates With Hypoxic[1]Ischemic Encephalopathy“, publicado em parceria com a Stanford University School of Medicine no Journal of the American Medical Association (JAMA)que destacou a importância do monitoramento neurológico contínuo em bebês com asfixia perinatal.

O estudo, coordenado pela PBSF em parceria com a Universidade de Stanford, monitorou 872 recém-nascidos em 32 hospitais brasileiros, mostrando que um terço dos bebês monitorados apresentou convulsões, e em 72% dos casos, essas crises não foram detectadas clinicamente, mas apenas pelo monitoramento contínuo. Com diagnósticos mais precisos e tratamentos assertivos, o prognóstico desses bebês melhorou significativamente.

Realidade Virtual mista

Devido a essa inovação na saúde digital, a solução tecnológica pode ser trabalha de qualquer lugar do mundo, inclusive, a companhia já tem projetos de expansão na Índia. Todas as informações do paciente recém-nascido são monitoradas por uma central que pode auxiliar médicos com abordagens e protocolos conforme a situação em qualquer lugar do mundo.

Em algum dado momento, se os profissionais da saúde encontrarem dificuldades no procedimento, por meio de algoritmos de IA e tecnologia de ponta, os médicos podem interagir com outros profissionais da saúde por meio da Realidade Virtual mista. A realidade mista combina o ambiente real com holografias interativas que podem ser manipuladas como um computador, e esse modelo digital imersivo permite uma melhora no monitoramento e no diagnóstico neonatal.

“O dispositivo que utilizamos permite projetar holografias e se conectar à internet, possibilitando a participação de especialistas de forma remota e em primeira pessoa, oferecendo uma experiência imersiva e colaborativa”, explica. “Além disso, ele utiliza Inteligência Artificial para análise do bebê, permitindo que o especialista, mesmo remotamente, participe ativamente do cuidado neonatal”.

Alcance mundial

Recentemente, o Dr. Gabriel Variane foi eleito presidente da Newborn Brain Society, uma das maiores sociedades internacionais dedicadas aos estudos para a proteção do cérebro dos recém-nascidos.

Fundada em 2020, a Newborn Brain Society possui membros em mais de 80 países e 550 instituições globais, e pretende expandir ainda mais seu alcance nos próximos anos. O médico brasileiro sucede o neonatologista Mohamed El-Dib, MD, diretor de cuidados neuro críticos neonatais no Brigham and Women’s Hospital (BWH), professor associado de pediatria na Harvard Medical School e membro fundador da NBS. O Dr. El-Dib é uma das maiores referências do setor de cuidados neonatais e continuará ocupando um espaço de liderança na sociedade.

Missão de escalar

Após quase duas décadas de carreira em uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, Rodrigo Paiva, ex-Vice-Presidente de Operações da Microsoft Brasil, decidiu deixar sua posição na big tech para abraçar esse propósito. Hoje, ele é responsável por todas as operações tecnológicas da PBSF.

Rodrigo Paiva, líder das operações tecnológicas da PBSF.

Rodrigo Paiva, líder das operações tecnológicas da PBSF.

A história de Paiva com a PBSF começou de maneira inusitada, quando ele ainda trabalhava na Microsoft. “Eu me apaixonei pela proposta da PBSF e pelo potencial que a empresa tem de realmente evitar sequelas cerebrais”, afirma Abreu. O executivo relembra um momento de sua vida pessoal que o marcou profundamente e que reforçou sua decisão de se juntar à PBSF: quando sua segunda filha, ainda recém-nascida, apresentou movimentos estranhos e precisou de um exame neurológico. “Quando vi minha esposa começar a chorar, percebi o quanto estávamos vulneráveis e despreparados para enfrentar esse tipo de situação. Esse foi o ponto de virada para mim”.

Para Paiva, a Inteligência Artificial é a chave para transformar o cuidado neonatal em escala global. Ele ressalta que essa jornada não é fácil e que a implementação de soluções em saúde requer tempo, paciência e constante inovação. “Não se trata de algo que você implementa e está pronto. A solução evolui todos os dias, e nós, da PBSF, estamos comprometidos em garantir que cada vez mais bebês recebam o cuidado adequado desde o primeiro momento de vida”.

Rodrigo Paiva decidiu deixar a Microsoft para se dedicar integralmente à PBSF, movido pelo desejo de escalar o impacto positivo da empresa. “Eu estava há 19 anos na Microsoft, em uma posição de destaque, mas percebi que poderia fazer mais. Agora, minha missão é ajudar a levar essa tecnologia para muito além dos 50 hospitais que atendemos atualmente. Queremos alcançar milhões de vidas em todo o mundo”.

 

Fonte: Consumidor Moderno

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