Como a criança pequena aprende: o brincar como a forma mais natural e potente para a promoção do desenvolvimento e aprendizagem.

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Sabemos que o desenvolvimento é uma interação contínua e dinâmica entre os fatores biológicos da criança e as experiências que ela vive em seu dia a dia. Os primeiros anos de vida são fundamentais para a maturação e crescimento do Sistema Nervoso, no qual o cérebro é o grande órgão majoritário, sendo necessário o oferecimento das melhores condições/experiências ambientais, afetivas e culturais possíveis para essa criança e seu entorno.

Quando o bebê chega ao seu lar, as principais condições potencializadoras de seu desenvolvimento são um ambiente acolhedor e o afeto dos pais, mas principalmente da mãe, que é quem, normalmente, passará a maior parte do tempo cuidando do bebê. Esse cuidar não se restringe apenas a atenção às necessidades fisiológicas da criança. Precisa ir além disso, porque esse cuidar necessita envolver a preciosa oportunidade para os pais de oferecerem afeto e acompanhar de perto o desenvolvimento do bebê, as suas características, potencialidades e, também, as dificuldades.

Várias pesquisas comprovam a importância do brincar como sendo uma das formas mais potentes para a estimulação e promoção do desenvolvimento e constituição infantil. Sabe- se que os bebês já nascem com uma capacidade genética enorme que lhes permite explorar, discernir e interpretar a realidade através de seus sentidos sensoriais, dentre eles a visão, a audição, o olfato, o tato, entre outros. As pesquisas na área da neurociência têm demonstrado claramente a importância das sensações e dos sentidos sensoriais para a construção do conhecimento.

Em outras palavras, a ciência já sabe que o cérebro em seu processo de amadurecimento e refinamento neurológico precisa ser nutrido de forma qualitativa e quantitativa. O nutriente mais potente para todo e qualquer cérebro são as sensações que o bebê recebe por meio dos seus sentidos sensoriais.  E, justamente, pelo brincar que o bebê, desde pequenino, tem a oportunidade de entrar em contato com todas as sensações para que elas cheguem até o cérebro e sejam transformadas em percepções, formando, assim, o substrato fundamental para todo desenvolvimento e aprendizagem infantil.

Explorar as possibilidades do ambiente, do objeto, do corpo, dos brinquedos é uma constante na infância. É explorando as possibilidades de sensações, percepções e ações que a criança pequenina aprende.   E nada melhor do que proporcionarmos um ambiente lúdico, acolhedor, seguro e confortável para que tudo isso possa acontecer.

Os bebês constroem o conhecimento agindo sobre o objeto que eles estão tentando conhecer. E como as crianças são eternas exploradoras de todas as possibilidades do ambiente ao seu redor, um simples objeto caseiro pode gerar um momento extremamente importante de ludicidade e descobertas.Quando um bebê bate um copo plástico contra uma tigela, descobre algumas propriedades do copo: sua forma, sua cor, o ruído que faz, o peso e a textura. Vai assimilando, portanto, as características dos objetos que fazem parte da sua rotina de atividades de vida diária e do contexto familiar, expandindo seu conhecimento e relacionando o que está tentando saber, com o que já se sabe. Afinal, no processo de aprendizagem infantil, nada é mais natural que o instinto de relacionar o que virá a ser conhecido, com o que já se sabe.

Dessa forma e aos poucos, o bebê constrói um corpo de conhecimento sobre os objetos concretos – brinquedos, utensílios para alimentação, objetos usados no banho, objetos usados na piscina, entre outros- e como cada objeto pode influenciar um ao outro. Por exemplo: o bebê terá as mesmas sensações e percepções se, ao invés de bater o copo plástico contra a tigela, bater uma colher de pau contra o mesmo utensílio, ou dois copos de plástico um contra o outro?  Os objetos têm pesos, formatos e texturas diferentes. Essas diferentes sensações e percepções são o que permitem o grande substrato para a aprendizagem por meio da livre exploração, interação, testes, pesquisas, repetições e experiências com o mundo físico, social e cultural de toda criança em processo de desenvolvimento.

Por fim, as crianças apropriam-se do conhecimento usando-o em seu contexto, rotinas e ações diárias. Uma vez que tenham agido sobre algum objeto ou brinquedo e correlacionado com o conhecimento prévio, precisam usá-lo para dominá-lo e torná-lo seu.  Aos poucos, as crianças vão decidindo como usar as mãos e o corpo em novas ações, descobertas e tarefas de habilidade, como brincar com os brinquedos, usar diferentes utensílios, como um garfo; construir uma estrutura, podendo ser uma torre de blocos; dispor objetos em uma sala; ou engajar-se em muitas outras atividades.

Praticar e repetir várias vezes o que foi aprendido é a maneira mais natural da criança adquirir um novo conhecimento, diante das experiências de novas ações e habilidades  E nada mais prazeroso do que poder repetir uma nova ação ou colocar em prática um novo conceito por meio do brincar livre e mediante a presença das pessoas com significado afetivo para as crianças, como os pais.

A neurociência já comprovou a relação direta entre o afeto e a plasticidade neurológica.  Crianças que possuem pais amorosos, carinhosos e atentos a suas necessidades possuem um cérebro mais desenvolvido e adaptável aos fatores externos e ambientais.  Isso quer dizer que são crianças que possuem uma melhor motivação intrínseca, estado de alerta, atenção e concentração em seu percurso de aprendizagem.

O brincar é, justamente, o contexto e a ocupação natural/significativa infantil que potencializa a motivação intrínseca da criança e a faz manter atenta às infinitas correlações que necessita fazer entre o que ela já sabe, com o que está acabando de conhecer.  Em outras palavras, o brincar é a potência do aprender, sem perceber o esforço em vencer os desafios diários que o mundo externo oferece a cada criança em pleno desenvolvimento das habilidades sensoriais, motoras, cognitivas e afetivas.  

Nesse contexto, assim como os brinquedos são recursos que estimulam as descobertas diárias das crianças, as possibilidades de explorar os objetos e o ambiente de casa podem também proporcionar ricas brincadeiras e momentos prazerosos entre pais e filhos. Uma colher pode servir de instrumento musical ou virar uma pá para remar o barco. Permitir que a criança explore e brinque de maneiras distintas e inesperadas com os brinquedos e objetos que fazem parte da própria rotina familiar é uma das formas mais potentes para estimularmos as habilidades sensoriais, motoras e cognitivas de nossos filhos e, assim, potencializarmos o desenvolvimento e aprendizagem infantil.

Portanto, brincar com a criança nos primeiros anos de vida é, principalmente, estimular seus sentidos, sua atenção, sua curiosidade e sua afetividade. Isso pode ser feito com a criança no colo, sobre a cama, sobre um colchonete, dentro da banheira onde toma o banho, sentada em seu cadeirão, entre outras possiblidades.  Podemos usar diversos brinquedos e objetos caseiros que não ofereçam perigo para a criança e que sejam adequados a sua etapa de desenvolvimento.

Lembre-se também que os brinquedos utilizados devem ser atóxicos e higienizados constantemente. Sempre que for brincar com seu filho, é importante escolher o momento em que esteja acordado, alimentado e sequinho. Ele deve estar confortável para que seja receptivo às brincadeiras e estímulos que está recebendo. Com um ambiente seguro, tranquilo e acolhedor nada melhor e mais prazeroso para pais e filhos do que brincar e garantir que estejamos oferecendo os desafios na medida certa e um ambiente com estímulos corretos – nem escasso e nem com excesso de estímulos – para potencializarmos a aprendizagem de nossos pequenos.

 Um grande abraço, Teresa Ruas

Doutora em Ciências da Saúde, Fundadora e Presidente da ACIP- Associação de Cuidado Integral à Prematuridade- @prematurosbr

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