O nascimento de um bebê é a mais dramática transição fisiológica da vida humana. Em nenhum outro momento, o risco de morte ou lesão cerebral é tão elevado. Apesar de a maioria dos recém-nascidos nascer com boa vitalidade, parte deles precisa de ajuda para que os pulmões assumam o papel da placenta na oxigenação dos órgãos e sistemas e para que o aparelho circulatório adapte o transporte de sangue oxigenado para um padrão compatível com a centralidade dos pulmões.
Eventualmente, condições obstétricas diversas podem causar uma diminuição do fluxo sanguíneo placentário durante o trabalho de parto ou no próprio parto, com baixa concentração de oxigênio no sangue que chega ao concepto e dificuldade de adaptação cardiorrespiratória ao ambiente extrauterino, o que pode levar à disfunção múltiplos órgãos e culminar na morte. É a chamada hipóxia ou asfixia ao nascer, condição para a qual há necessidade de procedimentos invasivos para manter a vida daquele paciente que, paradoxalmente, está no início da vida. Tais intervenções são chamadas de manobras ou procedimentos de reanimação neonatal.
Estudos epidemiológicos mostram que um em cada dez recém-nascidos precisa de ajuda para fazer a transição da vida intrauterina para a extrauterina.
O Setembro Verde Esperança
O movimento foi lançado pelo Instituto Protegendo Cérebros Salvando Futuros, entidade sem fins lucrativos e liderada por um grupo de profissionais de saúde preocupados com o alto número de bebês que evoluem com graves lesões neurológicas após insultos no período neonatal.
Essa campanha escolheu o Verde Esperança para conscientizar a população de que com tratamento adequado podemos minimizar o profundo impacto socioeconômico dessa doença em nosso país.
Primeiro minuto de vida
No Brasil, estima-se que 300.000 crianças a cada ano necessitem de ajuda para iniciar e manter a respiração ao nascer, o que deve ser feito nos primeiros 60 segundos após o nascimento, denominado “Minuto de Ouro”. A assistência adequada ao recém-nascido na sala de parto é fundamental para prevenir a morte e a ocorrência de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor nos sobreviventes.
Capacitação profissional
O treinamento dos profissionais de saúde em reanimação neonatal constitui-se em estratégia relativamente simples e não onerosa para diminuir a mortalidade neonatal e melhorar o prognóstico dos recém-nascidos que enfrentaram dificuldades na mudança da vida intrauterina para a extrauterina. A educação e as habilidades adquiridas pelos profissionais resultam inquestionavelmente em benefício importante à população.
É importante frisar que o risco de morte ou morbidade do recém-nascido aumenta em 16% a cada 30 segundos de demora para iniciar a ventilação após o nascimento, de modo independente do peso ao nascer, da idade gestacional ou de complicações na gravidez ou no parto. Estima-se que o atendimento ao parto por profissionais de saúde habilitados possa reduzir em 20-30% as taxas de mortalidade neonatal, enquanto o emprego das técnicas de reanimação preconizadas peos diversos grupos internacionais que trabalham no tema resulte em diminuição adicional de 5-20% nestas taxas, levando à redução de até 45% das mortes neonatais por asfixia.
A participação regular em cursos de reanimação neonatal estruturados é imperativa para toda a equipe que trabalha na sala de parto.
Programa de Reanimação Neonatal
O Programa de Reanimação Neonatal da Sociedade Brasileira de Pediatria (PRN-SBP), iniciado em 1994 e coordenado desde 2007 por duas docentes da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp), carrega esses dados em seu coração e faz da possibilidade de melhorar o prognóstico dos recém-nascidos de nosso país, por meio da educação continuada dos profissionais de saúde, a sua razão de ser.
Sempre atento à sua missão, o PRN já capacitou mais de 117.000 profissionais de saúde para o atendimento ao recém-nascido na sala de parto, contando com cerca de 1.200 instrutores em 236 municípios do país e constituindo-se, por sua abrangência, no segundo maior programa do mundo, atrás apenas do programa norte-americano.
O sucesso de capilarização por todo o Brasil, cujo ensino se baseia em práticas avaliadas pelas melhores evidências disponíveis e amplamente discutidas em nível internacional e nacional, permite que, no espírito do Setembro Verde Esperança, tenhamos a possibilidade de almejar que cada nascimento traga para sua família e para a nossa sociedade uma criança com potencial para desfrutar uma vida plena e longa.
Ruth Guinsburg
Professora da Disciplina de Pediatria Neonatal da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp). Membro do International Liasion Committee on Resuscitation Neonatal Life Support Taskforce. Coordenação Geral do Programa de Reanimação Neonatal da Sociedade Brasileira de Pediatria (PRN-SBP).
Maria Fernanda Branco de Almeida
Professora da Disciplina de Pediatria Neonatal da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp). Membro do International Liasion Committee on Resuscitation Neonatal Life Support Taskforce. Coordenação Geral do Programa de Reanimação Neonatal da Sociedade Brasileira de Pediatria (PRN-SBP).
Fonte: https://sp.unifesp.br/epm/ultimas-noticias/asfixia-perinatal-e-o-minuto-de-ouro-da-assistencia-ao-recem-nascido
muito bom que os obstetras façam esse programa também de reanimação neonatal.
parabéns pelo trabalho.
Deus abençoe muito.