Asfixia perinatal: Um bebê precisa em média 40 semanas de gestação para que seu organismo esteja pronto para a vida fora do útero. Esse é o tempo que a natureza prevê para que pulmões, coração, cérebro e todos os sistemas amadureçam de forma saudável. Quando o nascimento acontece antes de completar a 37ª semana, o bebê é considerado prematuro.
A prematuridade atinge um número significativo de famílias no Brasil. Todos os anos, cerca de 340 mil bebês nascem prematuros, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o que representa quase 1 em cada 10 nascimentos no país. Para entender melhor o impacto da prematuridade, é importante saber considerar o período em que o parto aconteceu. Sendo assim, bebês que nascem entre 32 e 37 semanas são considerados prematuros moderados a tardios; entre 28 e 32 semanas, muito prematuros; e aqueles que chegam antes das 28 semanas são chamados de prematuros extremos.
Entre os desafios enfrentados por esses bebês, um dos mais preocupantes é a asfixia perinatal, uma condição grave, que ocorre quando o bebê não recebe oxigênio suficiente antes, durante ou logo após o parto. Anualmente mais de 20 mil crianças nascem com esse problema no Brasil. Em âmbito mundial, a asfixia perinatal é a terceira causa de morte neonatal e, caso não seja identificada e tratada adequadamente, pode deixar sequelas irreversíveis.
É importante lembrar que, em alguns casos, tanto a prematuridade, quanto a asfixia perinatal podem ser prevenidas, principalmente com realização de um pré-natal adequado e controle dos indicadores de saúde da mãe. No entanto, mesmo com todos os cuidados, ainda assim há chance de eventos imprevisíveis acontecerem.
Mas é importante saber que com diagnóstico e tratamento é possível que mais bebês tenham a chance de receber o melhor cuidado e ter um futuro em que possam desenvolver seu pleno potencial.
A vulnerabilidade dos bebês prematuros à asfixia perinatal
Como dissemos, entre os diferentes riscos da prematuridade, a asfixia é um dos mais graves. Essa condição ocorre quando o bebê não recebe oxigênio suficiente antes, durante ou logo após o parto. Todos os recém-nascidos podem ser afetados pela asfixia perinatal, mas os prematuros são especialmente vulneráveis devido à imaturidade dos sistemas vitais. São eles:
- Sistema respiratório: os pulmões ainda não realizam trocas gasosas de forma eficaz, aumentando a chance de insuficiência respiratória.
- Sistema cardiovascular: o coração e os vasos sanguíneos podem apresentar instabilidade, dificultando a manutenção do fluxo sanguíneo adequado para órgãos essenciais, como o cérebro.
- Sistema neurológico: o cérebro em desenvolvimento é extremamente sensível à falta de oxigênio. Dessa forma, mesmo períodos curtos de asfixia podem causar lesões neurológicas, que se não diagnosticadas e tratadas no momento certo podem causar sequelas neurológicas permanentes.
Como é o cuidado de um bebê prematuro com asfixia perinatal
Quando um bebê nasce prematuro e enfrenta a asfixia perinatal, o cuidado precisa começar imediatamente. Os primeiros minutos de vida são decisivos para garantir que o oxigênio chegue ao cérebro, ao coração e a todo o corpo.
- Respiração e pulmões
Os bebês prematuros muitas vezes precisam de ajuda para respirar, porque seus pulmões ainda não estão totalmente prontos. Para isso, aparelhos especiais fornecem o ar necessário até que o organismo consiga funcionar sozinho.
Em alguns casos, esse suporte é usado por alguns dias, mas em bebês mais fragilizados pode ser necessário por semanas. A boa notícia é que, à medida que os pulmões vão amadurecendo e ficando mais fortes, o uso de aparelhos pode ser reduzido também. Primeiro, ele pode passar de um respirador mais potente para equipamentos mais leves, que apenas dão um “empurrãozinho” na respiração, até chegar ao momento em que consegue respirar sozinho.
- Cuidados neurológicos
O cérebro do recém-nascido é muito sensível à falta de oxigênio. Por isso, precisa ser monitorado de forma rigorosa por tecnologias que acompanhem seu sistema neurológico ininterruptamente em tempo real. Dessa forma é possível que as equipes de saúde identifiquem possíveis eventos agressores e tratem o problema no tempo certo.
É importante ressaltar que o período neonatal é a época em que mais se convulsiona. E, diferentemente de um adulto que apresenta sinais bem aparentes, um bebê não se mexe ou pisca. Sendo assim, pode ser praticamente impossível identificar esses eventos sem um monitoramento específico. Estima-se que mais de 85% das crises convulsivas em recém-nascidos sejam subclínicas, em outras palavras, não sejam descobertas pelas equipes médicas.
Da mesma forma, quando o bebê está internado em uma UTI neonatal, ele pode apresentar movimentos específicos que podem parecer que ele está convulsionando, dando um falso sinal para as equipes de saúde. O problema é que o tratamento para convulsão requer o uso de medicamentos, que podem causar efeitos colaterais nos pequenos, se usados indevidamente. Por isso, o monitoramento cerebral contínuo é tão importante, ele ajuda os profissionais de saúde a terem mais precisão no diagnóstico e tratamento dos bebês e obterem informações importantes sobre sua evolução e necessidades específicas.
- Coração e circulação
A asfixia perinatal também pode afetar o coração e a circulação do bebê. Por isso, ele é monitorado o tempo todo, com atenção especial à pressão arterial, os batimentos cardíacos e à oxigenação do sangue, que indica se o oxigênio está chegando bem a todos os órgãos.
Monitorar esses sinais é fundamental porque alterações na pressão, nos batimentos ou na oxigenação podem indicar que algum órgão não está recebendo oxigênio suficiente. Identificar essas mudanças rapidamente permite que a equipe médica intervenha imediatamente, ajustando medicamentos, oxigênio ou outros cuidados, prevenindo complicações e protegendo o desenvolvimento do bebê.
- Alimentação e nutrição
Nos primeiros dias, muitos prematuros ainda não conseguem sugar ou engolir sozinhos. Nesses casos, a nutrição é feita por sondas, de forma lenta e controlada. Sempre que possível, o leite materno é priorizado, já que oferece anticorpos, fortalece a imunidade, estimula o crescimento e protege o desenvolvimento do cérebro. Quando há necessidade, ele pode ser enriquecido ou substituído por fórmulas especiais adaptadas às necessidades do bebê.
A importância da equipe multidisciplinar
A UTI neonatal é um ambiente preparado para oferecer todo o suporte necessário a bebês prematuros ou que nasceram com condições que exigem cuidados intensivos, como a asfixia perinatal. Ali, cada detalhe é acompanhado de perto por profissionais especializados, com o apoio de tecnologias que ajudam na respiração, no controle da temperatura e na alimentação.
Por se tratar de um ambiente de alta complexidade, é necessário que uma equipe formada por diferentes especialistas, acompanhe e monitore o bebê de maneira intensiva durante sua recuperação. De forma geral, a rotina em uma UTI neonatal conta com a presença dos seguintes profissionais:
- Neonatologistas: monitoram sinais vitais e conduzir decisões médicas críticas
- Enfermeiros: acompanham rotinas diárias, cuidados com higiene, administração de medicamentos e suporte à alimentação;
- Fisioterapeutas: ajudam no fortalecimento respiratório e motor;
- Nutricionistas: garantem que o bebê receba os nutrientes necessários para crescer;
- Psicólogos apoiam os pais e ajudam na relação afetiva com o bebê;
- Fonoaudiólogos: contribuem para o desenvolvimento da sucção, deglutição
Além do trabalho especializado da equipe, os pais atuam ativamente na recuperação do bebê na UTI neonatal. Participar de atividades como o contato pele a pele, a amamentação, a troca de fraldas e a realização de estímulos suaves não só fortalece o vínculo afetivo entre pais e bebê, mas também contribui diretamente para o desenvolvimento físico e neurológico da criança. Esses momentos de proximidade ajudam a regular a temperatura corporal, estabilizar a frequência cardíaca e respiratória, estimular a digestão e promover a maturação do sistema nervoso. Cada toque, olhar e gesto de cuidado transmite segurança ao bebê.
A interação constante entre pais e profissionais também ajuda a criar um ambiente de cuidado compartilhado, em que cada avanço é observado e valorizado. A equipe multidisciplinar ajusta continuamente a respiração, a alimentação, a circulação e os estímulos neurológicos, enquanto os pais participam aprendendo a interpretar sinais do bebê e a oferecer suporte adequado.
A esperança como ação
Receber a notícia de que o bebê nasceu prematuro e com asfixia perinatal dá a impressão de que o chão foi tirado. Ninguém espera que o momento tão esperado de dar boas-vindas ao filho seja substituído pelo risco de óbito ou pela possibilidade de o bebê ficar com sequelas permanentes. O ambiente da UTI neonatal é bem diferente do quartinho pronto em casa reservado para o novo morador. Mas mesmo que esses eventos inesperados aconteçam, também existem profissionais preparados, protocolos, inovação tecnológica e científica para lidar com essas questões.
Como forma de trazer informação, tratamento e esperança às famílias, o Instituto Protegendo Cérebros & Salvando Futuros criou a campanha Setembro Verde Esperança, uma ação que mostra que cada vida importa e que por meio do cuidado no cuidado no tempo certo é possível transformar a vida dos recém-nascidos para que eles possam se desenvolver em seu pleno potencial.
O Setembro Verde Esperança se baseia em quatro pilares para prevenir e tratar a asfixia perinatal:
1º Realização de um pré-natal de qualidade, com acompanhamento médico e identificação de riscos
2º Assistência especializada no nascimento, com equipes treinadas para reanimação neonatal
3º Acesso a cuidados avançados em UTIs, como monitoramento cerebral, hipotermia terapêutica e suporte multidisciplinar
4º Acompanhamento pós-alta, com reabilitação e avaliações periódicas para favorecer o desenvolvimento saudável do bebê.
O lema da campanha é “Eu Respiro a Vida” e convida todos a agir para que mais bebês tenham a chance de receber o melhor cuidado para seu pleno desenvolvimento. Compartilhe você também essa ideia e juntos vamos transformar esperança em ação para salvar futuros.
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